quarta-feira, março 30, 2005

Torre de Dona Chama (5)


Pelourinho e "berroa"

Torre de Dona Chama (4)

A sua origem perde-se no tempo e até o próprio nome, Torre de Dona Chama, sugere histórias antigas de guerras e lendas de mouras encantadas. Testemunhos vivos da antiguidade são as ruas estreitas com casa de granito enegrecido, o Pelourinho, o Castro de S.Brás, a Ponte Romana e um largo junto ao pelourinho com uma porca de pedra, semelhante à porca de Murça, ao que os historiadores referem como sendo um culto de fertilidade apelidada de "Berrôa".

Adivinha...

Castedo, Torre de Moncorvo, Poiares, Peredo, Valbemfeito, Sucçães, Mirandela, Valpaços.
O que estas povoações têm de comum?
Dá-se um doce a quem acertar com a resposta.

quinta-feira, março 24, 2005

Valpaços (3)

Em "Memórias do Cárcere", romance escrito por Camilo Castelo Branco aquando de uma das suas passagens pela Cadeia da Relação do Porto, é referida com destaque a vila de Valpaços. Assim escreveu o genial autor: "Acompanhou a expedição a Valpaços, e foi dado como ordenança do senhor visconde de Sá da Bandeira. As proezas cometidas nesta temerosa e mal sortida batalha, estão escritas na condecoração de Torre-e-Espada, que o general por sua própria mão lhe apresilhou na farda. Fora o caso de do cômoro de uma ribanceira alguns soldados do regimento traidor apontarem, as armas ao general, conturbado pela fumaça das descargas. José Teixeira arrancou do cavalo a toda a brida, toma as rédeas do cavalo do general, obriga-o a saltar um valado.
Mal deram o salto passaram as balas poucas polegadas acima da cabeça de ambos. A este tempo três soldados de cavalaria avançaram desapoderados sobre o visconde de Sá. José Teixeira embarga-lhes a retirada, e desarmado o primeiro de um golpe, fere mortalmente o segundo e persegue o terceiro que fugia, até lhe arrancar a vida pelas costas. Quando voltou da facção já o general tinha suspensa a medalha, que o valente recebeu com mais delicadeza que entusiasmo de honras."

terça-feira, março 22, 2005

Valpaços (2)


Coreto

Guerra da Patuleia

Guerra civil que dividiu o país entre os liberalistas e os miguelistas e durou oito meses (de Outubro de 1846 a Junho de 1847). Terminou com o assinar da Convenção do Gramido, que dava a vitória aos liberais, após a intervenção da Espanha, França e Grã-Bretanha, ao abrigo da Quádrupla Aliança.

Em 16 de Novembro de 1846, verificou-se uma escaramuça em Valpaços, na qual as forças governamentais (miguelistas) do conde de Casal venceram as forças liberais de Sá da Bandeira, comandante das forças da Junta.

Valpaços

É a sede de um concelho constituído por trinta e uma freguesias. Uma povoação que congrega os anseios e as necessidades de uma vasta área e de milhares de pessoas que, em conjunto, procuram melhorar continuamente as suas condições de vida.

Os primeiros documentos escritos que citam Valpaços datam do século XII. O próprio topónimo tem uma raiz claramente pré-nacional. A freguesia terá começado por ser um pequeno reduto habitado por nobres e famílias senhoriais, atraídas por um conjunto de privilégios tendentes a povoar aquela região tão próxima de Espanha.

O acontecimento mais importante da história de Valpaços deu-se seguramente em meados do século XIX. Em 16 de Novembro de 1846, durante a Guerra da Patuleia, aqui se defrontaram as tropas rivais. O movimento, que começara de forma espontânea e por ter características eminentemente populares, passava nesse momento a tomar proporções políticas. Cerca de duas dezenas de mortos marcaram a passagem por Valpaços de uma batalha que depois prosseguiu por terras de Murça.

Segundo a lenda, participou na refrega o famoso Zé do Telhado, que inclusivamente teria salvo a vida ao visconde de Sá da Bandeira, ele que até fora lanceiro da rainha antes de se tornar salteador!

segunda-feira, março 21, 2005

Lendas...

Já repararam na riqueza desta região em lendas?
Muitas das povoações transmontanas têm pelo menos uma, que é sempre a mais bela de todas.
Querem ver? Apreciem esta:

O concelho de Valpaços orgulha-se de ser cenário de uma das mais belas lendas da história da literatura portuguesa.A lenda da pastora Comba que ascende à santidade foi escrita pelo poeta e escritor do século XVI, António Ferreira, autor da “A Castro”, uma obra inspirada na vida trágica de Inês de Castro. Nascido em 1528, faleceu em Lisboa no ano de 1569, vitimado pela peste. Formado em advocacia pela Universidade de Coimbra, chegou a ser desembargador do tribunal de relação de Lisboa. Em 1564, casou em segundas núpcias com D. Maria Leite, natural de Lamas de Orelhão, no concelho de Valpaços, local onde recolheu as informações necessárias para a sua “História de Santa Comba dos Valles”.
A antiga lenda fala-nos de um tempo ainda antes da fundação de Portugal, quando o território nacional se encontrava dominado pelos mouros. Conta-nos a história de Comba, um bela pastorinha que com seu irmão Leonardo apascentavam tranquilamente os seus rebanhos.
Sendo possuidora de tão rara beleza, rapidamente despertou o interesse do Rei Mouro que reinava na região de Lamas que, por ela se apaixonou perdidamente. No entanto este Rei Mouro era grande, membrudo e feio com uma orelha de asno e outra de cão, a quem chamavam o Orelhão: “A todos feo, a todos espantoso chamado era de todos Orelhão”.
A pobre pastorinha tremia de terror a pensar no Rei Mouro. No seu desespero, a doce Comba implora a Deus a Sua ajuda para permanecer pura e casta: “Não sou minha, meu Deus, toda sou Vossa, fazei que para Vós guardar me possa”.
O Rei Mouro, perdido de desejo ameaça a pobre pastorinha: “Eu sou teu Rei, tu és minha cativa, não te é melhor seres Rainha e viva, que arderes cruelmente em fogo vivo?”
Indiferente às súplicas e ameaças, Comba refugia-se mais na sua dedicação a Deus. Ferido no seu orgulho, o Rei Mouro persegue a pastora de lança em riste. Perseguida e encurralada entre a lança e um penedo, a pastorinha implora o auxílio dos Céus para que a ajudassem. Miraculosamente, a fraga abre-se, recolhe a pastorinha e fecha-se numa manifestação do poder Divino: “Ó Maravilha grande! Abriu-se pedra, obedece à Santa a rocha dura, obedece-o à Santa e abriu-se a pedra, e defendeu-a da cruel ventura”.
Enraivecido, o Rei Mouro vinga-se no inocente irmão de Comba, Leonardo, estripando-o e lançando-o a um charco.
O autor, António Ferreira, assegura que a ferradura do cavalo com que o Rei Mouro perseguiu a pastorinha, bem como a lança com que matou Leonardo ficaram marcadas na fraga, e a água em que foi lançado o corpo de Leonardo tornou-se numa fonte milagrosa:

“E a fértil chã terra, que ocupava,
Aquele monstruoso e cruel pagão,
Que outros claros Senhores esperava,
Inda se chama de Lamas de Orelhão”!

In Boletim Municipal de Valpaços, Abril 2004

domingo, março 20, 2005

O folar de Valpaços



Cozido em formas geralmente de barro ou argila, rectangulares, que lhe dá uma textura e sabor muito particulares. Para além da farinha, ovos e azeite, da receita que passa de geração para geração, também constam carne de porco, enchidos, coelho e galinha.
Este pitéu deve ser comido fresco e acompanhado por chá de cidreira ou cevadinha.

Mas há quem não o dispense ao pequeno almoço com um bom café ou mesmo café com leite!

sexta-feira, março 18, 2005

Torre de D.ª Chama (3)


Porca, "berroa" (ou ursa, segundo os especialistas)

Torre de D.ª Chama (2)

Torre de D. Chama é uma Vila e sede de uma grandiosa freguesia, ocupando uma extensa área, e pertencente ao concelho de Mirandela. É só a sua maior freguesia rural. Dista desta cidade cerca de 24 Km.Situa-se na margem esquerda do rio Tuela, a pouco mais de 3 Km, a NNE da sede de concelho. Tem defronte a mole verde da Serra da Nogueira, e a Sul as férteis terras de Macedo de Cavaleiros. É atravessada por diversos ribeiros.Com o surgir de Portugal, já em Plena Idade Média, Torre de D. Chama começa a ganhar mais importância, inclusive estratégica. Nesse sentido, e para a repovoar, o rei D. Dinis dá-lhe Foral em 25 de Abril de 1287, renovando-o a 25 de Março de 1299. Mais tarde, D Manuel I concede-lhe novo Foral a 14 de Maio de 1512. Contudo, a sua tradição municipalista deverá ter começado antes do século XIII.É que D. Pedro Fernandes “de Bragança”, na segunda metade do século XII, herda os haveres das localidades de Torre de D. Chama e vizinhas. Seu Pai, D. Fernão Mendes, era família do nosso primeiro rei. Terá sido feita, nessa altura, uma tentativa de repovoamento da área, cuja carta de foro ou foral é desconhecida.No tempo de D. Fernando, o senhorio da vila passa para um fidalgo Castelhano, por este considerar o rei de Portugal como seu rei. Só que, com a Regência do Mestre de Avis, Torre de D. Chama passa para um português fiel, Gonçalo Vasques Guedes, ao mesmo tempo senhor de Murça. Manteve-se nessa família de geração em geração.O concelho é extinto a 24 de Outubro de 1855, porém, devido a um bairrismo intenso, e a um desenvolvimento crescente, Torre de D. Chama passa a Vila de novo em 1994.

quinta-feira, março 17, 2005

Traje de domingo

Torre de D.ª Chama

Existindo já antes da Formação de Portugal, este nome de Torre de D. Chama evidencia claramente a sua indicação de uma “Torre”, e uma senhora local “Dona” do lugar, que se chamava “Chama”, proveniente de “Flamula” que deu “Chamôa” e depois “Chama”.

O Canadá aqui tão perto...

Um abraço aos Pintos do Canadá (os primeiros a colocar um comentário).

Terceiro e último dia...

Bem pela manhã sairemos de Mirandela em direcção a Torre de D. Chama.
Após 450 km, muitas histórias já se terão contado e muito se terá já visto.
Mas ainda teremos um belíssimo almoço à nossa espera em Valpaços (n'O Gregório) e, se houver tempo, daremos um saltinho ao Solar de Mateus.
Depois é a volta.
A chegada à Praça Francisco Sá Carneiro está prevista para as 16:31 horas, 3 dias e 662,3 km depois.
E com muita matéria para colocar aqui no blog.

Segundo dia...

A partida será por volta das 09:30 horas, já com 300 km percorridos.
De Torre de Moncorvo a Peredo distam mais 60 km que prometem muitas curvas.
Aqui pararemos uma hora para esticar as pernas.
Até Valebemfeito serão mais 20 km de estrada sinuosa. Nada que assuste os viajantes, claro.
O almoço espera-nos em Mascarenhas, no Museu do Azeite. Casa afamada, carece ainda de confirmação. A ver vamos...
Após o almoço, o nosso destino será Sucçães.
Será a última paragem, antes de Mirandela, onde pernoitaremos.
Boa noite...

quarta-feira, março 16, 2005


"Os Caretos"

"Sobreviveram com alguma vitalidade, neste recanto arcaizante do Nordeste transmontano, certas festividades cíclicas realizadas por comunidades camponesas. Integram uma amálgama de elementos profanos, mágicos e religiosos, "complexamente tramados", difíceis de definir e analisar.
Os mascarados, que transpiram força e vitalidade, transformam-se em seres míticos sagrados e profanos; gozam de uma liberdade (quase) sem limites, com a faculdade de troçar, criticar e "destruir".
Os "caretos", principais responsáveis pelo ludismo destas festividades, - "Festa dos Rapazes", "Festa de Santo Estevão" e "Carnaval"-, têm manifestações de excesso e libertinagem, chegando a fazer gestos ostensivamente sugestivos do acto criador, como acontece no Carnaval de Podense, no chocalhar dos quadris das raparigas."

In "Danças e Folias", Brigada Victor Jara

Afinal, foi ainda hoje...

... mas achei irresistível a opinião do Guardian Unlimited sobre Trás-os-Montes.
Aqui vai um excerto:

An old man with a leathery face leads a herd of wide-horned bullocks home after a long day in the fields. A horse-drawn cart stacked high with hay and bundles of firewood meanders down the road.

These are scenes from everyday life in the heart of Tras-os-Montes (meaning "Beyond the Mountains"), a neglected rural backwater in Portugal's far north. A wild and rugged place, it is one of Europe's most remote regions, with many of the buildings being former monasteries. The people there are a tough breed, and many have faces as hard as the granite terrain that surrounds them. But their toughness masks a warmth and hospitality.

Tras-os-Montes is Europe at its most rustic. Surrounded by three high mountain ranges, it was cut off for centuries. The region is so remote, even Napoleon Bonaparte regarded it as too hard to conquer and passed it by. Most visitors to Portugal do likewise, heading instead straight for Porto or the fertile, terraced valleys of the Douro River, or flying direct to the beaches and golf courses of the Algarve.

It's their loss.

Pois é.
O restante pode ser lido em http://travel.guardian.co.uk/countries/story/0,7451,921715,00.html.

Agora sim. Até amanhã.

terça-feira, março 15, 2005

... mandam quem lá estão?

Nada melhor do que lá ir ver se é verdade.
Inicia-se aqui o passeio (ainda que, para já, de forma virtual e mais tarde, de autocarro) às terras detrás dos montes.
Poderemos assim conhecer o percurso, histórias curiosas sobre as povoações a visitar, a boa comida transmontana que nos espera, factos e fotos, estórias...
Claro que toda a colaboração será bem vinda.
Antes de mais, o programa:
A partida será no dia 23 de Abril, pelas 09:30 h na Praça Francisco Sá Carneiro, Porto.
Atravessaremos Mirandela direitos a Castedo, onde chegaremos cerca das 12:00 horas e 200 km depois.
Paragem de 1 hora para visitar.
Em seguida, direitos a Torre de Moncorvo, para almoçar (pormenores mais tarde...).
Estaremos em Poiares cerca das 16:00 horas onde descansaremos.
Voltaremos Torre de Moncorvo para pernoitar na Residência Campos Monteiro.
E chegamos ao fim do primeiro dia e do primeiro "post".
Amanhã há mais...